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Rafael Teles

INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM POLITICAMENTE CORRETO

Haverá dentre vós, por acaso, alguma boa alma dotada do velho bom senso – aquela sensatez romanesca em relação à vida cotidiana —, que tenha já ouvido falar, nem que seja de relance, num tal dr. Jordan Peterson? É que esse tal, professor e psicólogo clínico canadense, é bastante conhecido cá pelas bandas do Ocidente pós-moderno desde o ano de 2018, tendo logrado fama e notoriedade após o lançamento de um livro intitulado “12 regras para a vida — um antídoto para o caos”. O livro é um fenômeno incontestável. Verdadeiro best-seller desde que foi parido.


“12 regras” fez tanto sucesso que, vejam só, obrigou seu autor a percorrer o mundo como conferencista e palestrante, em resposta ao caráter “controverso” das ideias ali condensadas. Se bem que, convenhamos, o caráter controverso de qualquer coisa hoje em dia é, em si mesmo (perdoem-me o truísmo), controverso. E tem sido assim desde que, num belo dia, algum progressista liberal comuno-psicótico entediado, cansado deste mundo de cão, enfastiado das muitas horas gastas defronte o videogame, resolveu por em dúvidas a própria identidade biológica. De chofre, sua obstinação justiceira logo mordeu o coração de outros tantos malucos entediados que, por suas vezes, espalharam a novidade como piolhos em cabeça de criança. E já estariam a planejar a quebra d`algum tabu escondido no verdor da grama, dizem as más línguas.


Mas voltemos ao “controverso” prof. Peterson. Foi anunciado nesta semana, pelo próprio, o lançamento da continuação de “12 Regras”: “Beyond Order: 12 More Rules For Life”, ainda sem título oficial em português. E vejam só, a coisa toda não poderia ficar menos curiosa: é que, após o anúncio do lançamento, dezenas de funcionários da Penguin Random House Canada — editora responsável pela publicação da obra —, resolveram formar um grupo coeso e obstinado (eles são sempre obstinados) para boicotar a publicação do livro pela empresa em que trabalham.


O website de extrema-esquerda Vice News dá conta de que, numa reunião com o conselho editorial, havia pessoas chorando ao expressar como Jordan Peterson afetou suas vidas. Funcionários chorando durante uma reunião de trabalho. Chorando. Um funcionário relata como o pai se tornou “radical” após ter lido Peterson; outro, como a publicação de um novo livro afetaria negativamente seu amigo “não-binário” (seja lá que estupidez queira isto dizer).


A geração materialmente mais bem assistida e privilegiada da história do mundo, com acesso instantâneo a informação e conhecimento ilimitado, bem ali, na palma de suas mãos macias — de pele hidratada e aquecida pela tela de um smartphone —, chorando no trabalho. Chorando. A comida é barata e superabundante. A energia é barata. A tecnologia da saúde margeia territórios miraculosos. O tempo livre é gozado de forma plena e confortável com a maior permissividade moral desde Sodoma e Gomorra. A mídia de massas (o novo clero) é tão permissiva e tolerante que se vê obrigada a inventar e falsificar “crimes de ódio” dia sim dia também num notável esforço de criatividade insana que faria Simão Bacamarte pedir arrego (viva Machado!). Tudo para que ninguém morra de tédio e para a maior glória das instituições democráticas. Mas ainda assim, adultos-mirins choram numa reunião de trabalho por causa do lançamento de um livro que contém ideias com as quais não concordam. Trabalhadores intantilóides de uma editora de livros que não querem que livros sejam publicados, comercializados. Uma editora de livros que contrata profissionais que não querem publicar livros. E podem apostar: todos ali certamente aprenderam com a escola e a TV a condenar sem piedade (e sem conhecimento) o antigo Index Librorum Prohibitorum da Igreja Católica, aquela aberração obscurantista (aí, que ódio).


Jordan Peterson é um farol. Uma referência estritamente necessária em nossos dias. Seus grandes feitos não são outros senão a aceitação corajosa e incondicional da realidade e um treino magistral, estoico, na exposição clara e precisa de suas próprias ideias — algo mortalmente ofensivo para os padrões atuais. Enfim, a moral do episódio resume-se, ironicamente, no que o próprio Peterson conclui em uma de suas regras “controversas”: se você acha que homens durões são perigosos, espere até ver do que homens fracos são capazes.


Que o Logos divino conceda àquele homem regar, com as lágrimas acriançadas de seus inimigos, os jardins da existência de quem o lê.


Rafael A. Teles, novembro de 2020.

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