Não pode mais sair de casa
Não pode mais dizê o que pensa
Não pode mais se defender
Não pode duvidar da imprensa
Não pode nem contar piada
Não pode mais nem beber leite
Não pode mais ganhar dinheiro
E nem pescar o próprio peixe
Não pode mais ir para a igreja
Não pode questionar ciência
Não pode mais rezar o terço
Não pode rejeitar demência
Crer em Deus e não no Estado
Pecado não mais perdoado
Querer cuidar da própria vida
Jesus, que cousa mais fascista
Não pode mais ser branco e macho
Jamais ser bravo nem viril
Não pode mais fazer churrasco
Nem a bandeira do Brasil
Não pode mais criar o filho
E nem votar em gente honesta
Não pode criticar Ministro
Não pode mais nem fazer festa
Não pode trabalhar na rua
Não pode mais prender bandido
Não pode questionar algema
Não pode mais fazer sentido
Não pode tomar sol na praia
Não pode falar palavrão
Não pode xingar gente besta
Não pode tripudiar vilão
Deus do céu, que fim funesto
Democracia é mesmo isto?
E se o poder do povo emana
Contra ele mesmo é exercido
Não temerei a própria morte
Deram-me máscara e refil
Morre mil vezes o covarde
E vive morto o bom servil.
Rafael A. Teles, outubro de 2020.