Coração esquálido, vergastado,
Cravejado de cera, claustro de teia,
Derrete, flamejado, quente e amargo.
Estoura e sopita, caga e vomita
A exaustão da existência parida.
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Trincheira renhida,
Insaciável capricho de melancolia,
Que bate, não freia,
Ricocheteia em fumaça e areia,
Faz a si mesma uma prece fingida.
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Deus, oh Deus…. envelhece, entardece,
Amaldiçoa e fenece a centelha que aquece,
Chora por Ti a minh’alma
Pelada, desconfigurada,
Um buraco de bala dissipa a mortalha,
Dilacera a ferida, tripa e metal, absinto carnal,
Testemunha o luau o febril pôr-do-sol.
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Vendo o sol se afastar,
Pintado de chagas, sangrando de pus,
Do chão cato os cacos e cravo-os na Cruz, Dilaceram a palma, gotas de alma
Que pingam na vala, comum,
Entrego desgraças ao vórtex de luz.
Rafael A. Teles, abril de 2022.